sábado, 27 de dezembro de 2008

'Austrália' com Nicole Kidman


Um épico que tenta salvar o turismo australiano

'Austrália', realizado por Baz Luhrmann e protagonizado por Nicole Kidman e Hugh Jackman, estreou-se em Portugal. A história presta homenagem aos grandes épicos da era de ouro de Hollywood, e filma o drama das 'gerações roubadas', separadas da família pelas autoridades locais

Governo ajudou a financiar a rodagem do filme

Austrália, que ontem se estreou nas salas portuguesas, quer ser muito mais que um filme. Em primeiro lugar é uma espécie de cartão turístico, que pretende mostrar a Austrália como um destino de eleição. Funciona também como um pedido de desculpas aos membros das chamadas "gerações roubadas" (crianças aborígenes separadas de seus pais durante mais de um século). Por fim, presta homenagem a vários clássicos da era de ouro de Hollywood, sem nunca se comprometer com um género em particular. E ao longo de quase três horas tenta ser um melodrama à antiga, um western, ou uma comédia.

Mas aquilo que prende a atenção na quarta longa-metragem de Baz Luhrmann (em mais de 16 anos) são as vastas paisagens australianas, embelezadas pelo realizador. O Governo acredita que o filme pode revitalizar o turismo local em época de recessão e, por isso, ajudou a financiar a obra, cujo orçamento se encontra perto dos cem milhões de euros. O gabinete turístico, por outro lado, gastou cerca de um milhão de dólares (700 mil euros) numa campanha publicitária internacional, a decorrer em paralelo com a sua estreia.

Esta decisão não é ingénua, inspirando-se directamente no fenómeno que ocorreu em 1986, quando o número de visitantes ao país aumentou exponencialmente após a estreia de Crocodilo Dundee. Aconteceu o mesmo na vizinha Nova Zelândia depois de O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, no início da década.

Já o argumento centra-se em Sarah Ashley (Nicole Kidman), uma aristocrata britânica que durante a II Guerra Mundial viaja até à Austrália para se reunir com o marido. Apesar de começar por desprezar o país, é obrigada a ficar na Oceânia e não tarda em perceber os encantos da paisagem australiana. Pelo meio há também um romance com o seu co-protagonista, Hugh Jackman.

Há ainda uma história paralela sobre as "gerações roubadas", contada por Nullah (Brandon Waters), uma criança mestiça cujo pai é branco e a mãe aborígene, colocando a relação entre os colonos e os nativos no centro da narrativa. De facto, há uma tentativa de pedir desculpa às "gerações roubadas". É aqui que o filme comete alguns erros crassos, retratando por exemplo a venda de álcool a um aborígene como uma enorme conquista. O problema prende-se com o facto de a introdução de bebidas alcoólicas no país pelos europeus ter sido dramática para estes povos. Até porque, nos dias que correm, o alcoolismo continua a ser um dos principais problemas das populações indígenas.

LUÍS FILIPE RODRIGUES in DN Online