domingo, 28 de dezembro de 2008

O emplastro do Largo das Caldas....


O emplastro

"Portas é um ambicioso compulsivo e pisa quem se atravessar na sua frente [...].

Portas quer poder".

Paulo Portas tem um trajecto no jornalismo ou no pseudojornalismo e outro na política ou na pseudopolítica. Qualquer dos trajectos está marcado pela sua inteligência e sentido de oportunidade.

Mas quando se analisa, caso a caso, os aspectos fortes e fracos desta sua dúplice carreira, é muito fácil encontrar situações que nos suscitam enorme perplexidade. No jornalismo, Portas distorceu a tal ponto a informação e a ética que é muito difícil reconhecer mérito nessa caminhada.

'O Independente', nas suas mãos, vendeu bem mas é completamente claro que Portas não hesitou em usar o seu jornal como arma de arremesso para atingir os seus fins políticos. Mentiu quando foi preciso mentir, sonegou quando foi preciso sonegar, manipulou quando foi preciso manipular, caluniou quando foi preciso caluniar.

Fê-lo sempre com enorme inteligência e... habilidade. A mesma inteligência e habilidade que se podem reconhecer a um grande burlão. Na política pulou todas as cercas. Feriu os amigos sempre que isso lhe era conveniente. Quando esteve no Governo usou a mesma estratégia.

A princípio parecia uma coisa mas depois percebeu-se que era outra. O apregoado rigor, a badalada defesa dos mais idosos, por exemplo, eram instrumentos oratórios de época eleitoral e nada mais.

De novo Portas a atingir fins sem olhar a meios. Pelo caminho ficaram muitos 'cadáveres' e 'moribundos' que ele foi triturando sem dó nem piedade. Como sempre a perspicácia e a argúcia que fazem dele um personagem astuto, mas em regra, uma praxis sem princípios nem valores.

Portas é um ambicioso compulsivo e pisa quem se atravessar na sua frente. Agora, na Oposição, é igualmente interessante segui-lo, tanto se lhe dá aliar-se à direita ou à esquerda, fabricar novos amigos ou deixar os antigos à berma da estrada.

Portas quer poder.

Tem sede de poder. A sua relação com a televisão, que ele sabe ser o meio mais eficaz no combate político, tem-lhe permitido alcançar objectivos importantes.

É raro o dia em que Portas não entra nos telejornais. Quer haja, quer não haja notícia. Quando não há ele 'inventa' e convence os directores a dar-lhe atenção.

Portas visita um hospital. Vê-se o homem e mais dois secretários entrar no estabelecimento hospitalar. O que lá foi fazer, ninguém sabe. O que importa é quando sai.

Aí Portas 'pranta-se' na porta do hospital e debita uns 'sound bytes', no tempo exacto. Hoje é o hospital, amanhã a escola, depois o lar de idosos etc, etc.

Paulo, o emplastro. O que custa a acreditar é os tais directores de televisão permitirem este jogo falsificado e oportunista.

Emídio Rangel in Correio da Manhã Online