Não já a ideologia, mas o combustível. Não os jogos de espiões num café de Moscovo, ou na Alexander Strasse, mas os oleodutos e gasodutos do Cáucaso. Muitos só perceberam o problema quando um filme da série 007 abandonou os tabus da Guerra Fria, e tratou do novo conflito.
Conflito simples e complicado: a Europa desenvolvida e capitalista tem dinheiro para comprar o combustível de que precisa, para não gelar, mas a produção do mesmo faz-se fora do seu "mundo". Ou nas bordas do Mar Cáspio, ou nas profundezas da Rússia, ou no Irão. Por outro lado, o transporte de gás e petróleo dá-se por zonas instáveis, ameaçadas pela guerra civil, pela pressão de Moscovo, ou pelo conflito internacional. A Ucrânia e a Geórgia são bons exemplos.
O cenário de uma Europa vulnerável, com populações de 18 estados a partilhar os restos de magras reservas, enquanto durar a disputa entre a Gazprom russa e a Naftogaz ucraniana, estava traçado há muito. A Rússia satisfaz 70% das necessidades europeias em gás, e 20% das mesmas passam pelas vias de transmissão da Ucrânia. O presidente da Comissão Europeia foi um dos primeiros a alertar a União: este assunto é não só estratégico, como é prioritário. E não é só prioritário, como urgente.
Mas como pode a UE reagir?
Por um lado, trata-se de executar medidas de emergência: criação de reservas importantes, a exemplo dos stocks petrolíferos para tempo de crise, e incentivo a novas linhas de fornecimento, ou à diversificação dos fornecedores. Entram aqui os produtores do Magrebe e do Médio Oriente, os transportes marítimos de origens remotas (incluindo África e América), e a possibilidade de abastecimento do continente pela linha Nabuco, que uniria directamente a União ao Cáspio, via Irão e Turquia.
Por outro lado, é preciso começar a pensar a prazo, em novas energias, em energias renováveis, ou na reformulação da política nuclear para fins pacíficos.
Por fim, a União tem de obrigar o produtor russo, e o transmissor ucraniano, a práticas contratuais modernas e civilizadas. Nesse sentido, Barroso avisou para a possibilidade de processos judiciais ruinosos, exigindo quantias avultadas a Moscovo e Kiev, que poderiam implicar o fecho das empresas penalizadas. Nesse sentido, ainda, vem a União exigindo a presença de observadores, fiscais e monitores, que possam verificar, nos centros de distribuição e controlo, quem está verdadeiramente em falta.
A história do que tem corrido mal, neste confronto onde Bruxelas aparece como vítima, é difícil de traçar.
Por um lado, vários países da ex--órbita soviética assinaram, na última década e meia, tratados com Moscovo, traduzidos numa espécie de pacto de sujeição: não hostilizando o Kremlin, beneficiariam de preços artificiais. Enquanto que os europeus pagam 400 dólares por 1000 m3 de gás, a Bieolorússia paga 125, a Arménia 110 e a Ucrânia pagava 200. No caso de Kiev, o acordo expirava em Dezembro, e na renovação Moscovo exigiu um preço incomportável: 450 dólares. Acresce o facto de os ucranianos deverem ainda dois biliões de dólares às companhias russas.
A "união nacional" do Kremlin contrasta com a divisão política em Kiev, com Yurshenko e Timoshenko em camas separadas. Mas os dois países precisam do exterior. Se esticarem demasiado a corda, perderão mais do que ganham. Alienarão amigos e cavarão a ruína. No caso ucraniano, a Europa ficaria mais longe. No caso russo, o império cairia, por pés de barro.
Zeki...!!!
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“Aqui não há príncipes nem princesas, aqui é o BENFICA DO POVO que marca!"
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— Scof (@scof1904) November 28, 2024
Há 28 minutos