Filme, de Clint Eastwood, o drama de uma mãe, numa história verídica , chega amanhã aos cinemas.
Los Angeles, 1928. Christine Collins sai de casa para o trabalho. Quando volta, o seu filho de oito anos desapareceu. A criança é-lhe restituída, mas Christine sabe que não é o seu filho. Em traços gerais, é assim "A troca", que estreia esta quarta-feira.
As autoridades, mais interessadas em limpar a sua imagem, acusam Christine Collins de ser uma mãe irresponsável e de estar a mentir.
O caso, que realmente se passou, foi desenterrado da poeira do tempo pelo argumentista J. Michael Straczynski, tendo seduzido Clint Eastwood e Angelina Jolie. O filme daí resultante, "A troca", foi pela primeira vez apresentado no Festival de Cannes, em Maio do ano passado, chegando amanhã às nossas salas de cinema. Um exemplo do classicismo da escrita cinematográfica de Eastwood, num poderoso libelo em prol da justiça e da verdade e contra a corrupção do sistema policial e político. E uma homenagem ainda à coragem de uma mulher, numa época onde era raro dar voz ao sexo feminino.
Em Cannes, Clint Eastwood encontrou-se com a Imprensa, onde falou sobre o seu novo trabalho. "Com alguma regularidade, digamos de duas em duas ou de três em três décadas, há uma grande mudança no sistema policial e nas estruturas políticas de Los Angeles, sempre que há fortes indícios de corrupção. 1928 foi uma dessas épocas", começou por referir. "O que se passou é que não a levaram muito a sério porque era uma mãe solteira. Mas essa atitude acabou por se virar contra eles".
Quase sempre que se faz um filme de época, a intenção dos seus autores é falar também do presente. "Não se pode dizer que tenha sido intencional relacionar esta história, que se passou em 1928, com os tempos de hoje", afirmou Eastwood. "No entanto, a História por vezes repete-se. Quem sabe…", acabou por concordar. "Desde aquela altura, muitas coisas mudaram. Algumas para melhor, outras para pior. Esta mulher, através da sua atitude tenaz, deitou abaixo o sistema policial e político. O presidente da Câmara não foi reeleito. O filme é um grande estudo sobre o carácter humano. É a história de uma mãe a lutar contra uma cidade inteira."
Depois de "Mystic river", o actor e realizador volta a virar-se para uma história onde a busca da verdade é a principal alavanca narrativa. "A verdade é a coisa mais importante numa história. Dizer a verdade é o que há de mais importante para um actor. A verdade é a maior virtude neste planeta, e o que torna interessante todos os dramas", afirma. E continua: "Gosto de colocar questões. Normalmente, escolho as histórias pelo seu valor dramático. O conflito é a fonte do drama. Histórias como esta, que têm muitos conflitos, são muito interessantes para mim. Não se conta uma história onde não há problema nenhum e tudo é perfeito."
Curiosamente, o filme questiona a Polícia, quando Eastwood se tornou muito conhecido pelos seus papéis de polícia duro, na saga de Dirty Harry. "Isso foi há mais de 30 anos, e era mais uma história de aventuras", recorda.
O que Eastwood descarta é o regresso a um dos papéis que mais o celebriza, apesar de se falar regularmente dessa hipótese. "Esse rumor não é correcto. Não tenho intenções de voltar a fazer o papel. Há certas coisas em que temos de ser realistas. Dirty Harry já não estaria a trabalhar na Polícia com a minha idade...".
JOÃO ANTUNES in Jornal de Notícias
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