segunda-feira, 8 de junho de 2015

a vida de Sócrates na prisão: "Os Sopranos", "A Guerra dos Tronos", Philip Roth e Grossman...


No dia em que sabe que o Ministério Público propôs alteração da medida de coação de Sócrates de prisão preventiva para prisão domiciliária, o Expresso recupera uma reportagem publicada na revista E a 30 de maio de 2015. Sócrates está há seis meses em Évora e já se adaptou às rotinas da cadeia. Já viu “Os Sopranos” e “A Guerra dos Tronos”. Leu Philip Roth e Vassili Grossman. E tem escrito. Muito. Os amigos garantem que se mantém “determinado em provar a sua inocência.” Seis meses depois, é o retrato da vida do recluso 44

O encontro decorre no Hotel Le Colbert, em pleno Quartier Latin, em Paris. É meio-dia. João Araújo, o advogado, explica a José Sócrates o que vai acontecer quando o ex-primeiro-ministro regressar a Portugal: “Vai ser detido. E provavelmente fica em prisão preventiva.” Propõe-lhe então um plano alternativo: iriam de avião até Madrid e ficavam lá durante o fim de semana. Depois, regressavam a Portugal no carro do advogado e, na segunda-feira, às oito e meia da manhã, apresentavam-se na sede do DCIAP “para prestar os esclarecimentos que fossem necessários”. 

 A previsão de João Araújo não era propriamente mirabolante: o motorista João Perna e o melhor amigo de Sócrates, Carlos Santos Silva, tinham sido detidos e tinha havido buscas policiais a uma casa habitada por um dos filhos do ex-primeiro-ministro. A ‘Operação Marquês’ estava na rua e o cerco do Ministério Público e do procurador Rosário Teixeira era uma realidade difícil de negar.

José Sócrates demora dois minutos a decidir: recusa o plano do advogado com o argumento de que “um ex-primeiro-ministro não pode andar fugido”. E nesse mesmo dia — sexta-feira, 21 de novembro de 2014 —, apanha um avião da Air France com destino a Lisboa. João Araújo não consegue lugar no aparelho e regressa noutro voo. 

 A liberdade de Sócrates termina assim que sai do avião que o traz de Paris. Vem a falar ao telemóvel com um amigo e nem repara nos agentes da PSP e da Autoridade Tributária que o esperam à saída da manga e lhe dão ordem de prisão. Seguem-se três dias de interrogatório às mãos do procurador Rosário Teixeira, titular do processo, e de Carlos Alexandre, o temido juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal.

Os dois magistrados concordam em quase tudo, até na prisão preventiva de Sócrates, indiciado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. O MP acredita que Sócrates foi corrompido enquanto era primeiro-ministro para beneficiar o grupo Lena. E que usou as contas bancárias de Carlos Santos Silva para movimentar dinheiro que era na realidade seu: 23 milhões de euros. 

 É a primeira vez que um ex-primeiro-ministro de Portugal é preso (ou quase, porque em 1922, Liberato Damião Ribeiro Pinto, que chefiou o Governo entre novembro de 1920 e março de 1921, foi preso sob suspeita de desviar fundos da GNR) e os regulamentos das cadeias são omissos em relação ao destino que deve ter. Acaba por ir para Évora, para a cadeia dos polícias, onde em princípio estará a salvo de qualquer agressão ou problema mais grave. Chega na madrugada do dia 24 de novembro e recebe o número 44.

restante reportagem no 'Expresso'