terça-feira, 30 de junho de 2015

o director de comunicação do Benfica, João Gabriel, está em grande forma desportiva...


"A proliferação de articulistas e comentadores é reflexo do nosso tempo, ruidoso e impreciso. Vem isto a propósito do muito que foi dito e escrito precisamente há um ano. Do desastre previsto e das previsões falhadas. Vem igualmente a propósito do novo exercício que os mesmos hoje fazem sobre o futuro do Benfica e do seu treinador. 

Há um ano, havia quem avançasse com os graves problemas que a queda do BES iria trazer ao Benfica. Questionaram a sustentabilidade do projeto e anteciparam incumprimentos em relação a obrigações assumidas pela SAD. 

Depois, foi a PT e a ameaça que pairava sobre os clubes em função da retirada da marca como main sponsor. Pelo meio disto tudo, não faltaram as repetidas referências ao "monstro" do passivo. 

Curiosamente, neste tempo, o Benfica conseguiu reduzir passivo, reestruturar dívida, substituir a PT pela Emirates, consolidar a BTV como player no mercado televisivo e, ao mesmo tempo, fazer a época mais conseguida do ponto de vista desportivo da sua história. 

Mais, o Benfica superou os 200 milhões de faturação, uma marca nunca antes atingida em Portugal. E tudo isto assumindo juros de mercado (e não de favor) pelos seus encargos financeiros, o que neste caso não é um pormenor irrelevante. 

Falharam as previsões, mas ninguém, dos que anunciaram o desastre, fez qualquer errata. Repito, sinal dos tempos, ruidosos e imprecisos, que vivemos. Há um ano, o Benfica tinha feito o inédito triplete, mas dois meses depois sentia-se um ambiente depressivo no ar. 

A "desconstrução" do plantel alimentava o pessimismo que se tinha instalado entre os sócios e adeptos do clube. Este ano, com mais três títulos no futebol profissional, a história repete-se. Diz a sabedoria popular que não há duas sem três. Para o ano, voltaremos a ganhar e a entrar em depressão. 

Há coisas piores. Quanto à "desconstrução" do plantel, tão apregoada nos media, ela não é mais o que uma opção assumida, sem complexos nem equívocos, que tão bons resultados tem dado. 

Uma fórmula bem-sucedida nos últimos anos por parte de, pelo menos, dois clubes portugueses e que se traduz na descoberta de novos talentos, na sua valorização e na consequente renovação dos seus plantéis. 

É uma realidade transversal a todos os clubes e, mais do que um problema, tem sido assumida como uma oportunidade. A história já nos provou que, quando lutamos contra o assédio de clubes europeus financeiramente mais apetrechados, perdemos sempre, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista desportivo. 

Ultrapassado o BES, a PT, a "desconstrução", segue-se, este ano, a mudança de treinador e a aposta na formação. Dois problemas na perspetiva de muitos, duas oportunidades do ponto de vista do Benfica. 

Agosto ainda vem longe, mas os comentadores já alinharam o discurso apontando para a herança e para o enorme desafio de Rui Vitória. E é, efetivamente, mas, mais do que uma situação conjuntural, o desafio de Rui Vitória é uma inevitabilidade. 

Chegar ao Benfica é sempre um tremendo desafio, independentemente de como ou quando se chega. Mas, se quisermos ser sérios e factuais, o desafio não é menor para nenhum dos outros treinadores dos chamados "grandes". 

Um deles teve ao seu dispor - e a afirmação não é minha, mas do seu presidente - o melhor plantel dos últimos 30 anos e nada ganhou. 

Há dois anos que o clube não conquista o título mais desejado, o que é um lastro difícil de gerir. 

Não há nada pior de combater que a desconfiança das bancadas, esse será o seu maior desafio nos próximos meses. O outro treinador aparece envolto numa espécie de mito sebastianista, desafiando as limitações financeiras e o regime de austeridade em que o clube vivia há vários anos. 

Também não é irrelevante o facto de suceder a um treinador que sai em rutura com a administração do clube, mas que é querido pelos seus jogadores. 

Não é, igualmente, saudável tentar importar de forma maciça know-how, porque isso é sinal de que o novo treinador não reconhece competência aos atuais quadros e, pior, não vê neles capacidade para o acompanharem no desenvolvimento interno do projeto. 

Afastar pessoas também não é a melhor forma de chegar a uma nova casa. O sebastianismo, como sabemos, não acabou bem! Perdeu-se a independência. 

Todos vão ter desafios diferentes, mas todos vão ser postos à prova. 

Focar apenas em Rui Vitória essa responsabilidade não só é absurdo como totalmente falso. Finalmente, a formação. 

Rui Vitória não chega ao Benfica com a obrigação de fazer entrar em campo cinco jovens do Seixal na equipa titular. 

Vem apenas com a missão de não os bloquear no seu processo de crescimento, de os conhecer, de lhes dar as oportunidades que merecem. Tão simples como isto"


João Gabriel, 28 de Junho de 2015 in Record