sexta-feira, 18 de setembro de 2015

é este o Sporting de Jorge Jesus que irá entrar para a história como diz Rui Santos?





Ando, há vários anos (os mesmos que Jorge Jesus chegou ao Benfica) a tentar explicar, por A+B, que Jorge Jesus não é nem um terço do treinador que insistem em fazer dele, ano após ano, título após título, desilusão após desilusão.
Claro que, os meus argumentos, com 3 títulos nacionais em 6 anos e mais uma série de conquistas “menores” como Taças da Liga, Supertaças e Taça de Portugal, são mais facilmente rebatidos por todos quantos querem fazer do atual treinador do Sporting, o supra-sumo na arte de treinar. No entanto, eu sempre fui coerente, e sempre mantive a minha teoria: Jorge Jesus beneficiou, ao longo da estadia no Benfica, de um conjunto de situações que o catapultaram para um nível que… ele não tem. E esse “conjunto de situações” passa, essencialmente, por duas coisas: por um forte investimento do Benfica no mercado e em termos orçamentais (manter jogadores como Aimar, Saviola, Garay, Luisão, Di Maria, Matic, etc. não será fácil) e por um desinvestimento notório por parte da equipa dominadora do futebol nacional nos últimos trinta anos (o FC Porto foi vendendo as pérolas, foi ficando mais frágil, ainda foi ganhando até que chegou ao ano de Paulo Fonseca em que os dragões nem 15 jogadores seniores/experientes conseguiam apresentar com regularidade).
Como várias vezes disse (e várias vezes fui criticado – e sê-lo-ei novamente com palavras menos próprias de quem não tem a mínima noção do que é viver em democracia) vejo muito mais demérito em Jorge Jesus nos dois títulos de Vítor Pereira no Dragão que mérito do agora treinador do Fenerbahçe. Sim, eu sei que o FC Porto, em duas épocas, apenas perdeu 1 jogo com Vítor Pereira, mas também sei que em ambas as temporadas, já no último terço de campeonato, o Benfica de Jesus partia com vantagem sobre o seu adversário, para não falar na vantagem que existia no plantel dos encarnados face ao dos portistas, razão pela qual reforço o meu ponto de vista.
Mas, nos dois últimos anos, Jorge Jesus apareceu vencedor: primeiro frente a um fraquíssimo FC Porto de Paulo Fonseca que conseguiu acabar em terceiro atrás do Sporting, depois frente a um FC Porto de um Lopetegui que também teve muito demérito no título de Jorge Jesus. E, nos últimos dois anos, os títulos choveram na Luz: o Benfica, no primeiro desses anos, tinha um plantel forte, no segundo nem tanto, mas o treinador benfiquista conseguiu a proeza de, partindo como primeiro cabeça de série na Liga dos Campeões, acabar na última posição e, de janeiro em diante, o Benfica apenas pensou no campeonato (e a Taça da Liga, pois o Benfica fora eliminado, em casa, para a Taça de Portugal). A verdade é que, mesmo tropeçando aqui e ali, o Benfica contou com um “aliado” de peso pois, quando tropeçava, o FC Porto de Lopetegui retribuía o gesto e nunca conseguiu assaltar a liderança da prova.
O que interessa, no fim disto tudo, é que Jorge Jesus ficou imortalizado como o primeiro treinador a conseguir um bicampeonato em mais de 30 anos da equipa com mais títulos nacionais, e toda a gente lhe faz a vénia por esse e outros feitos. Eu não o fiz, nem o faço. Continuo, apesar dos números, a achar Jorge Jesus um treinador banalíssimo.
E, este ano, Jorge Jesus surpreendeu o mundo, surpreendeu os seus “amantes” e aqueles que, como eu, não o acham nada do outro mundo, e resolveu trocar o Benfica pelo Sporting. Nesse momento, até eu pensei: “ganhas o campeonato pelo Sporting e eu tenho que dar o braço a torcer, mas tens que o fazer com as mesmas condições daqueles que, antes de ti, o tentaram sem o conseguir”. Esta segunda parte da minha premissa já caiu por terra: o Sporting reforçou-se com jogadores experientes, muitos deles internacionais (João Pereira, Naldo, Aquilani, Bryan Ruiz, Teo Gutiérrez) e, as armas de agora não são as mesmas de antigamente. Mas, pelo andar da carruagem, até vou dar isso de barato e vou ver se, mesmo com um plantel bem melhor que o do ano passado (e anteriores) se Jorge Jesus, mesmo com um Benfica em reconstrução e com novo treinador e mesmo com um FC Porto com um Lopetegui que insiste em não perceber a mística do Dragão, o treinador do Sporting consegue levar a equipa a terminar o jejum de títulos de campeão nacional.
A campanha até começou a correr bem, com Jesus e o Sporting a baterem o rival Benfica na Supertaça. Eu arrisco dizer que, não sendo o jogo disputado na Luz, o Benfica perderia esse jogo com qualquer treinador (minimamente capaz, claro) que estivesse do outro lado, e ainda arrisco dizer que o Benfica perderia com um terço das equipas que disputam o nosso campeonato: a equipa vinha de uma péssima e mal preparada pré-temporada, estava de rastos fisicamente, só tinha um avançado no plantel (Mitroglou tinha assinado dois ou três dias antes e ainda assim foi a jogo) e pouco ou nada incomodou o Sporting. Sorte para Jorge Jesus porque esse foi o primeiro e único jogo em que a equipa não sofreu golos.
No campeonato, depois de um triunfo “arrancado a ferros” frente ao estreante Tondela, o Sporting empatou em casa frente ao Paços de Ferreira, vencendo os dois jogos seguintes fora de portas. É verdade que, nos 4 jogos para o campeonato, 3 foram fora de portas e que a equipa, só muito raramente apresentou um futebol bonito. E até entendo que o futebol bonito não faz falta nenhuma a quem quer ser campeão, para isso basta ganhar jogos e, o Sporting, até tem sido minimamente competente nesse capítulo, apesar de, por norma, partir com 45 minutos de vantagem para depois sofrer nos segundos 45. Tem sido assim em quase todos os jogos e esta é, uma das diferenças do Sporting de Jesus para o Sporting de Marco Silva: se com o agora treinador do Olympiacos a equipa, por norma, “dava” 45 minutos de avanço ao adversário, com Jesus acontece ao contrário e as segundas partes é que são “perigosas”.
E foram as segundas partes perigosas que, por exemplo, em Moscovo, ditaram uma derrota clara do Sporting. Sim, o Sporting foi prejudicado pelo arbitragem, mas eu não justifico com arbitragens resultados de jogos até porque, a vencer por 0-1 ao intervalo (e com vantagem de 2-1 da primeira mão), o Sporting não podia ter deixado fugir a Champions.
A Champions fugiu e, apesar de poder parecer precoce, a Liga Europa arrisca-se a ir pelo mesmo caminho! É que, perdendo em casa com os russos, se a lógica imperar, o Sporting é bem capaz de, na melhor das contas, fazer 6 pontos em casa e, talvez, 3 fora. Serão 9 pontos suficientes para seguir em frente, isto admitindo que o Sporting vence os dois jogos frente ao Skenderbeu? Talvez não sejam, até porque o Besiktas é bem capaz, se o Sporting continuar assim, de vir, pelo menos, buscar um ponto a Alvalade.
Talvez Jorge Jesus “opte” por repetir a época passada e esteja a arranjar forma de “livrar” a sua equipa de continuar na Europa para além de dezembro. Depois da “derrocada” financeira da ausência da Champions, da ausência de patrocínios até ao momento, e do “fantasma” da Doyen, um afastamento precoce de Liga Europa a que se pode juntar uma saída a custo zero de Carrillo seriam golpes a mais para uma equipa que procurou investir para ter retorno imediato.
Para já, e no meu ponto de vista, o Sporting de Jesus vale o que vale: até pode, este fim-de-semana, caso o FC Porto não vença o clássico, isolar-se na frente do campeonato, mas está longe de convencer. É verdade que ainda não chegámos à dezena de jogos sob o comando de Jorge Jesus e é verdade que “só” os Moscovitas conseguiram vencer, por duas vezes (e ambas por 3-1) o Sporting, mas, para quem, supostamente está perante o melhor treinador em Portugal, começa a parecer pouco. Nenhuma das equipas moscovitas (e muito menos o Lokomotiv que o CSKA) são papões para tamanha diferença. Hoje, então, chegou a dar ideia, na segunda parte, que a goleada poderia ter acontecido, com um Sporting apático, igual a tantos outros de épocas recentes com prestações igualmente fracas e a demonstrar uma enorme fragilidade.
Pode, ainda, ser cedo para tirar grandes conclusões mas… se é este o Sporting de Jesus, não era preciso o triste episódio da troca de treinador nem a chegada de novos jogadores pois estamos perante “mais do mesmo”.