domingo, 28 de dezembro de 2008

Fernando Pessoa

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando António Nogueira Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935),