"Sinto-me um vulcão em actividade, depois de todos estes anos de sofrimento. É o melhor sentimento que posso ter, já que o meu pai era um 'boche', o 'inimigo', enquanto eu o admirava com todo o meu coração", exulta Daniel Rouxel. Aos 67 anos, viu ser-lhe atribuída a nacionalidade alemã após uma luta de mais de 15 anos.
Rouxel nasceu em Abril de 1943, filho de mãe francesa e de Otto Hammon, tenente do exército que então ocupava a maior parte da França. É uma das 200 mil crianças nascidas de uniões entre francesas e militares alemães de 1940 a 1944.
A Alemanha começou, finalmente, a reconhecer-lhes a dupla nacionalidade, tendo Rouxel sido o primeiro, em Agosto de 2009. Depois dele, num processo ainda em curso, muitos outros conseguiram o passaporte alemão, pondo fim a uma situação de ignomínia e discriminação, que só foi possível após o degelo das relações franco-alemães nos anos 70.
A mãe de Daniel trabalhava na cantina de um campo militar alemão em Pleurtuit, localidade na costa atlântica, a dez quilómetros de Saint-Malo, quando a invasão aliada da Normandia, em Junho de 1944, a leva a partir para Paris. O bebé ficou para trás numa família de acolhimento.
Aos quatro anos, Daniel passou a viver com a avó materna numa aldeia da Bretanha. Aqui é visto como "uma curiosidade"; quando frequenta a escola, os outros alunos não lhe poupam insultos - frases como "filho de boche e de puta" eram "de veludo comparado com os insultos dos adultos", recorda Daniel.
Aos cinco anos, pensou em suicidar-se.
Sessenta anos depois, a família alemã de Daniel entrega-lhe o capacete do pai. Para ele, foi o objecto "mais precioso" que alguma vez recebeu.
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